terça-feira, 29 de maio de 2007

OS DESAFIOS PARA ORIENTAR O TABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DO ALUNO DE SERVIÇO SOCIAL

Como orientadora de Trabalhos de Conclusão de Curso, venho enfrentando alguns desafios que a nova realidade educacional vem nos confrontando.
A essência de todo o atravessamento que hoje emerge neste contexto acadêmico reflete a contradição do que está posto na sociedade capitalista contemporânea: garantir direitos ou, então, ser hospedeiro da opressão para responder as exigências do mercado.
Logo, para ser Assistente Social e estar professora e orientadora de TCC’s é necessário se apropriar do significado deste trabalho para a formação do profissional Assistente Social.
A primeira opção traz em sua essência a compreensão de que este Trabalho se constitui em um momento ímpar para os alunos que estão concluindo o curso de graduação. É um momento precioso em que o aluno deve se apropriar de todo o conteúdo teórico aprendido e articulá-lo com a prática construída nos Estágios I e II, por exemplo. Em que a experiência da realidade concreta retorna para o conhecimento aprendido e, pela reflexão, produz condições de superá-lo ao se elaborar o TCC.
É o momento do aluno, em que ele vai se apropriando, agora, não mais como aluno, mas como futuro profissional, dos fundamentos do Serviço Social.
E aos professores, ao orientar, cabe acompanhar com mão firme esta caminhada de reflexão em que juntos discutem, refletem e aprendem em movimentos de permanente superação do conhecimento. Este é o sentido do TCC e de sua orientação.
No entanto, o que hoje a realidade nos confronta?
Com a dor do aluno comprometido com a sua escolha. Que, ao chegar neste momento, se dá conta de sua fragilidade teórica, pela fragmentação da aprendizagem. Pela dificuldade de se conectar com as diretrizes curriculares. Pela falta de tempo, por estar sempre no terceiro turno do dia. Pela falta de articulação entre a teoria e a prática.
Também, neste contexto, se tornam visíveis alunos, futuros profissionais, cujo diploma é mais importante do que a profissão. Que seu interesse é o interesse do mercado. Que seu objetivo é se qualificar para somente aquilo que o mercado oferece, banalizando o Projeto Ético-Político da profissão. Logo, este momento que pode ser intensamente produtivo para alguns alunos, para outros é um entrave a mais a ser superado, portanto, os meios acabam justificando os fins. E são estes alunos que vão, então, dar guarida à “falcatrua”, ao contratar serviços de terceiros que vendem os trabalhos prontos, aviltando, dessa forma, a profissão, vendendo o conhecimento e coisificando o futuro profissional. Neste ato, passa a existir a co-responsabilidade através de duas vias que vai validando e consolidando a mercantilização do ensino como bem explicita CHAUÍ:

Se a universidade for um supermercado, então, nela entram felizes consumidores, ignorando todo o trabalho intelectual contido numa aula. (...) Recebem os conhecimentos como se estes nascessem dos toques mágicos de varinhas de condão. E, no momento das provas, ou querem resgatar os preços ou querem sair sem pagar ou abandonam o carrinho com as compras impossíveis xingando os caixas (...). É assim a universidade? Se o for, nossa produtividade será marcada pelo número de produtos arranjados nas estantes, pelo número de objetos que registramos nos caixas, pelo número de fregueses que saem contentes (apud MACIEL, 2006, p. 68).

Assim, aos poucos, vamos “formando” Assistentes Sociais hospedeiros que, para garantirem um lugar no mercado, vão perdendo o sentido ético da profissão.
Maria da Graça Türck

terça-feira, 22 de maio de 2007

ASSISTENTE SOCIAL “PÉ NO CHÃO”!

O acolhimento é um palavrão para os “intelectuais do Serviço Social”. Eles gostam do discurso inflamado, que informa o ponto de chegada, mas não sabe por onde caminhar. Como garantir direitos, sem falar em acolhida, em escuta sensível, em empatia, em vínculo... impossível, o papo fica em um plano ideal, desvinculado da realidade concreta onde ocorre o processo de trabalho do assistente social” (postado por anônimo em 09.05.2007 em resposta ao artigo Acolhimento...).

Ao me defrontar com este comentário, embora anônimo, não pude deixar de trazê-lo para uma reflexão. Este é o grande “nó” do Serviço Social. Ainda não construímos um caminho para articular a teoria com a prática. E, ao assumirmos um paradigma teórico que dá conta de nosso Projeto Ético-Político, ainda não conseguimos concretizá-lo na prática, não indo além do discurso sobre o resultado.
A assistente social Maria Lúcia Martinelli, em suas falas, sempre pontua: “nós somos profissionais que trabalhamos na conjuntura, não com a conjuntura”. Ela é extremamente lúcida ao afirmar permanentemente esta máxima. Ela está dizendo que nós trabalhamos com sujeitos concretos. Que trazem em suas vidas todas as expressões da Questão Social resultado da relação capital e trabalho. Que também se expressa pela conjuntura. Logo, quem traz para nós o objeto a ser desvendado carregado da trama das relações sociais, postas pela sociedade capitalista de cunho periférico, é este sujeito, único em sua concretude, com sua história de vida, com seu sofrimento cotidiano resultado da negação de direitos. E nós, assistentes sociais, ao tê-lo em nossa frente, temos que primeiramente vê-lo como alguém que tem que ser acolhido, não como alguém que tem que ser recepcionado educadamente e ser encaminhado através de uma entrevista informativa.
A acolhida implica em escuta sensível, ao confirmar este sujeito como único, embora seja hospedeiro de sua própria opressão. Esta se consolida por ele por não se constituir como um sujeito de direitos pela própria alienação, que permeia as relações sociais que, para manter a exclusão, se retroalimenta na própria alienação.
Como podemos acolher, como podemos escutar, sem que este sujeito adquira um significado para nós assistentes sociais e sem que tenhamos um significado para eles?
Na essência do acolhimento está a empatia e a capacidade do vínculo como uma estratégia de enfrentamento ao objeto desvendado e de sua superação. Sem este caminhar, este sujeito concreto que chega a nós, continuará a ser tratado como “coisa” e nós continuaremos a ser hospedeiros da opressão, porque continuaremos a reproduzir as relações de opressão.
Assistente Social “pé no chão” é aquele que produz na prática a articulação desta com a teoria. Que se orienta pelo Projeto Ético-Político, ocupando os espaços de resistência na garantia de direitos.
Assistente Social “pé no chão” é aquele que sabe que, para garantir direitos, necessitará aprofundar o conhecimento e permanentemente superá-lo pela realidade concreta que nos confronta, sem que tenhamos que abandonar os fundamentos que dão sustentação a nossa profissão.
Assistente Social “pé no chão” sabe que o caminho é árduo e que só a realidade concreta desafia o conhecimento do Serviço Social, porque é desta realidade concreta que consolidamos o conhecimento e construímos caminhos.
No entanto, os “intelectuais do Serviço Social” estão devendo aos assistentes sociais “pés no chão” a metodologia de aplicação do Método Dialético Materialista para consolidar o nosso processo de trabalho no cotidiano, na garantia de direitos.
Maria da Graça Türck

segunda-feira, 14 de maio de 2007

NA CONTRAMÃO DO QUE ESTÁ AÍ, SEJAM BEM-VINDAS AS “OVELHAS NEGRAS”!

“Ovelhas negras” em um mundo dominado pela desigualdade é heresia para quem deseja só ouvir o “balido” das ovelhas submissas. Este rebanho cresce assustadoramente em todos os cantos, em todas as profissões, porque se contenta com o brilho vazio do sucesso, do dinheiro fácil, das relações fáceis e coisificadas.
É mais fácil aceitar do que lutar!
É mais fácil ser desleal do que manter a ética!
É tão mais fácil ser hospedeiro do que ser protagonista!
Em um mundo com estas relações, estar na luta e na defesa de direitos, é caminhar quase sozinha.
Mas quase, só quase...
Como me dizia uma amiga, sempre que chegávamos ao fundo do poço da desesperança, existe uma tribo perdida por aí. Logo, é só nos acharmos em um coletivo e saberemos que não estamos sozinhos na luta contra a intolerância, contra a ignorância, contra o egoísmo, contra o individualismo, contra a opressão, contra a violação de direitos...
Portanto, para nós assistentes sociais, sempre teremos que escolher neste imenso “rebanho”.
A escolha sempre será dicotômica: ou “ovelhas” que seguem sem questionar porque logo ali receberão as benesses do patrão; ou as “ovelhas negras”, que não negociam seu Projeto Ético-Político e conseqüentemente sua dignidade.
Com certeza, com todas as intempéries, com todas as ameaças, com todas as dificuldades, a minha escolha sempre será a defesa intransigente dos direitos humanos e a busca por uma sociedade mais justa e igualitária.
Feliz dia dos assistentes sociais a todas as “ovelhas negras” que não aceitam a “canga” da opressão, porque sabem que a “canga” do patrão traz o brilho fácil da opressão e mata a dignidade da vida...

Maria da Graça Türck

segunda-feira, 7 de maio de 2007

OS “HOSPEDEIROS” DA OPRESSÃO: DIGNOS REPRESENTANTES DA CLASSE DOMINANTE

Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
Que diz: ele agiu em legítima defesa. Mas
O mesmo parágrafo silencia
Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.
E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente
Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre
Não lhe é permitido se defender (BRECHT, 2006, p.73).


Logo, votar pela redução da maioridade penal é fácil para quem vem vivendo e se alimentando da desigualdade social.
É fácil argumentar a barbárie com belas palavras revestidas da hipocrisia e do cinismo dos dignos representantes da classe dominante.
É fácil apelar para o emocional de uma população medrosa pelo recrudescimento da violência social.
É fácil achar o caminho para manter a opressão, com o apoio dos oprimidos, aprisionados pela sua própria alienação e, conseqüentemente, pela própria negação de sua identidade de classe.
É fácil justificar salários altos, pela argumentação de sua própria competência profissional que só existe, com certeza, na classe dominante.
É fácil descaracterizar e desqualificar a corrupção, porque esta tem origem no núcleo da classe dominante.
É fácil encontrar argumentos para continuar criminalizando os sem-tetos, os sem-terras, os sem-trabalho, os sem-comida, os sem-tudo!
É fácil ser “hospedeiro” da opressão, para oprimir os seus iguais, sem se dar conta de sua própria opressão!
É fácil ter um preço!
É fácil vender a dignidade para manter-se no topo de uma sociedade perversa e excludente!
O que é difícil é ser assistente social e nos orientarmos em uma sociedade onde tudo está à venda, até mesmo a dignidade...

Maria da Graça Maurer Gomes Türck